Cinco Minutos Para Fechar o Caixão


CINCO MINUTOS PRA FECHAR O CAIXÃO...
Uma história que vale cada segundo da leitura.

O velho cavalo já não corria como antes. As pernas trêmulas, o olhar perdido. Desde o acidente nas corridas, isolou-se no estábulo e fechou o coração para o mundo.

Foi ali que, certa manhã, a serpente o mordeu. Ele caiu, arfante, os olhos virando, o corpo frio.

A primeira a vê-lo foi a galinha. Frágil, mas incansável, ela correu para o mato. Com o bico colheu folhas, raízes, flores secas. Passou horas preparando um chá com as ervas que ouvira dizer que curavam veneno.

Mesmo pequena, arrastou uma casca de coco cheia do chá morno até o estábulo. Suada, com as penas coladas ao corpo, ofegante, estendeu a cura.

O cavalo abriu os olhos com raiva e cuspiu:

— Vá embora com sua piedade! Eu sei me virar!

Num golpe, derrubou o chá. O líquido quente respingou no rosto da galinha, que recuou. Forçou um sorriso, sem dizer nada. Mas, ao chegar ao galinheiro… desabou.
Chorou como quem já sabia que jamais seria vista.

Naquela noite, o cavalo gemia. A febre queimava, o veneno seguia firme. A galinha voltou, com passos lentos. Empurrou seu ninho até o estábulo e deitou-se ao lado dele, só para vigiar seu sono.
De tempos em tempos, molhava um pano e tocava sua testa com carinho.

Ao amanhecer, ele despertou com um grito:

— Sai daqui! Eu te odeio! Não preciso de ninguém!

Deu-lhe uma patada. Ela voou para o lado, arranhada, com as asas trêmulas. Cambaleando, voltou para o galinheiro com dor no corpo… e uma ferida nova na alma.

No dia seguinte, com o peito pesado, subiu a trilha da montanha. O vento gelava suas penas. No topo, encontrou o velho sábio — um corvo de olhos fundos e penas grisalhas, sentado sobre uma pedra.

— Mestre… será que um dia o cavalo vai enxergar o meu amor?

O corvo olhou o horizonte e respondeu com a voz baixa:

— Vai. Mas só quando ouvir o coveiro dizer: "Cinco minutos para fechar o caixão."

Essas palavras caíram como tempestade. A galinha apenas assentiu.
Voltou para o galinheiro… mas nunca mais entrou no estábulo.

Sem ela, os dias ficaram mais silenciosos. O cavalo estranhava o vazio, os baldes sem água, os panos secos, a falta daquele olhar que o seguia mesmo quando ele fingia não ver.

Começou a sentir falta.

E foi essa ausência que o fez acordar.

Até que um beija-flor pousou no cercado, com olhos tristes:

— Ela morreu. Estão levando ela agora. Vai se despedir?

O coração do cavalo disparou.
As pernas pesavam, mas ele correu como não fazia há tempos. Cada passo era um soluço engasgado.

No cemitério, uma pequena caixa de madeira aguardava, rodeada por flores simples e galinhas cabisbaixas.

O coveiro pigarreou:

— Cinco minutos para fechar o caixão.

O cavalo desabou diante do caixão. Lá estava ela, com as asas cruzadas, o rosto sereno, e os olhos fechados — em paz.

Ele chorou como nunca. As lágrimas encharcaram a madeira.

— Ela era tudo o que eu precisava… e eu só percebi tarde demais.
Era boazinha, generosa… minha amiga.
E eu… eu a amava.
Grande saudade ela vai deixar…

Palavras que ela nunca ouviu em vida.

Mas quando o sino tocou seu último segundo, algo aconteceu.

A tampa não desceu. As penas mexeram.
A galinha se levantou com dificuldade, sorriu com doçura… e falou:

— Eu também te amo, cavalo.
Só queria saber se um dia eu seria vista.
Só precisei de cinco minutos…

O cavalo arregalou os olhos:

— Você… não morreu?!

— Morri, sim. Por dentro. Um pouco a cada desprezo.
Mas hoje, pela primeira vez, você me viu.
E isso me trouxe de volta.

Ele quis falar mais, mas as palavras sumiram. Apenas a abraçou — um abraço que dizia tudo o que a voz nunca soube dizer.

Moral da história: Na correria da vida, esquecemos que o amor precisa ser reconhecido em vida, não apenas lembrado na ausência. Muitos cuidam em silêncio, suportam desprezos calados e continuam oferecendo o melhor de si, esperando apenas um olhar de gratidão, uma palavra de carinho, um simples “eu vejo você”.

Mas quando esse reconhecimento não vem, algo vai morrendo aos poucos dentro deles. Não espere o tempo passar, não espere o último instante para valorizar quem sempre esteve por perto. Um gesto de afeto hoje pode salvar um coração de se apagar em silêncio. Dizer “obrigado”, “eu te amo” ou “você é importante para mim” nunca é demais — e pode ser exatamente o que o outro precisa para continuar. Porque, no fim, os maiores arrependimentos não vêm do que fizemos, mas do que deixamos de dizer quando ainda havia tempo.
Não deixe para depois. O depois pode nunca chegar.

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