Efraim, o Elefante Sereno

Ilustração estilo pixar de um elefante em uma floresta  com olhar trasmitindo serenidade

Em um reino onde o sol acariciava suavemente as savanas douradas e o vento dançava entre as folhas dos baobás, reinava Efraim, um majestoso elefante conhecido por sua incomparável serenidade. Sua presença inspirava respeito e paz, e sua calma era tão profunda quanto os rios que cortavam aquele vasto território.

Mas o que mais chamava atenção em Efraim não era seu tamanho, sua força ou sua posição como rei — era sua tranquilidade diante dos desafios, algo que intrigava até os mais sábios anciãos da savana.

Viviam por ali três amigos inseparáveis, cheios de energia e curiosidade:
Tico, o suricate irrequieto que nunca parava quieto;
Riso, a zebra cujas gargalhadas ecoavam como música ao vento;
e Vento, o tucano falante que transformava tudo o que ouvia em repetições hilárias e confusas.

Certo dia, os três, movidos por uma curiosidade ingênua, decidiram pôr à prova a paciência do rei. Queriam entender de onde vinha aquela calma quase sobrenatural. Assim, cada um preparou um pequeno desafio.


O Desafio de Tico

Tico foi o primeiro. Durante uma tarde quente, enquanto Efraim repousava à sombra de um grande baobá, o suricate esgueirou-se sorrateiramente e escondeu um colar feito de pedras e penas. Era um presente da mãe de Efraim, um símbolo de afeto e saudade.

Quando o rei acordou e percebeu que o colar havia sumido, seus olhos se entristeceram. Mas, em vez de se enfurecer ou acusar alguém, ele simplesmente respirou fundo e começou a procurá-lo com calma, perguntando com gentileza se alguém o havia visto.

A atitude de Efraim tocou profundamente Tico, que sentiu um nó na garganta. Sem conseguir sustentar a culpa, correu até o rei, devolveu o colar e pediu desculpas.

Efraim sorriu e disse apenas:
— Quando algo importante se perde, a raiva não ajuda a encontrar. Mas a calma pode revelar o que está escondido.

Tico aprendeu ali o valor de respeitar o que é precioso para os outros.


A Provação de Riso

Dias depois, Riso decidiu tentar algo diferente. Durante uma assembleia noturna de animais, ela sugeriu uma “corrida de risos”, na qual todos deveriam rir o mais alto e mais tempo possível. Ela acreditava que o barulho poderia abalar a compostura do rei.

A savana se encheu de gargalhadas, sons estridentes, caretas engraçadas e confusões cômicas. Efraim, no centro de tudo, manteve-se sereno... mas não indiferente. Observava, sorria discretamente e, vez ou outra, soltava um riso grave e sincero, contagiado pela alegria do momento.

Riso, vendo que sua provocação havia se transformado em celebração, compreendeu que a verdadeira vitória não era abalar o outro, mas multiplicar a alegria.

— O riso é mais bonito quando não tenta ferir — disse Efraim.
E Riso nunca mais riu para provocar, apenas para alegrar.


O Desafio Final de Vento

Por fim, Vento decidiu elevar o desafio. Em uma manhã clara, ele começou a repetir palavras soltas pela savana. Mas, desta vez, escolheu sons negativos: sussurros de medo, gritos de insegurança, até murmúrios distorcidos que diziam: “Você não é suficiente.”

O silêncio que se formou foi tenso. Muitos animais esperavam ver Efraim perder o controle. Mas o rei apenas fechou os olhos, respirou fundo e caminhou até Vento.

— Ouvir o que fere é inevitável, mas carregar isso dentro de nós é uma escolha — disse ele com doçura. — Vozes ruins ecoam por fora, mas a paz verdadeira vem de dentro.

Vento, tocado, silenciou-se. Pela primeira vez, não sabia o que repetir.


O Baobá da Sabedoria

Naquele mesmo dia, os três amigos pediram a Efraim que lhes revelasse o segredo de sua serenidade. O rei os levou até o baobá mais antigo da savana. Suas raízes pareciam abraçar a terra, e seus galhos tocavam o céu.

Ali, ele contou:
— Meu pai me ensinou que a verdadeira força não está em reagir com fúria, mas em suportar as tempestades com firmeza. A mansidão não é fraqueza, é coragem com domínio. Eu escolho, todos os dias, não permitir que as ações dos outros ditem minhas reações.

Os três amigos ouviram em silêncio, com os corações abertos. Haviam compreendido que Efraim não era imune à dor ou ao incômodo — ele apenas havia aprendido a não ser escravo deles.


A Moral da História

A história de Efraim nos lembra das palavras de Jesus:
“Bem-aventurados os mansos, pois herdarão a terra.” (Mateus 5:5)

Ser manso não é ser passivo, e sim deliberado. É decidir não reagir com ódio, mesmo quando há motivo. É cultivar uma paz interior tão sólida que nenhuma provocação a destrói.

Como Efraim, podemos aprender a ouvir sem absorver, a rir sem zombar, e a perdoar sem se diminuir. A mansidão é uma força silenciosa que transforma corações — inclusive os que vieram para testar os nossos.

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