O Criador de Galinhas e a Enchente
Num sítio isolado, onde os campos verdejantes se estendiam até o horizonte e o som dos pássaros misturava-se ao murmúrio de um rio sereno, vivia um criador de galinhas. Sua vida seguia o ritmo da natureza, tranquila na maior parte do tempo, mas com um temor constante que assombrava seus dias a cada temporada de chuvas.
O galinheiro, orgulho e sustento da propriedade, tornava-se o centro do pesadelo quando as águas do rio começavam a subir. O que antes era calmaria se transformava em aflição. Em pouco tempo, a terra se encharcava, e a correnteza avançava sem piedade, invadindo o terreno, derrubando cercas, afogando esperanças.
No meio do caos, o criador corria entre as poças e a lama, tentando resgatar suas galinhas, que se debatiam em vão, molhadas e assustadas. Mas por mais esforço que fizesse, o resultado era quase sempre o mesmo: centenas de aves perdidas para a fúria das águas. A cada nova cheia, o ciclo de perda e desespero se repetia.
O homem se sentia vencido. Preso a um lugar que amava, mas que já não lhe dava segurança. Cansado e abatido, ele viu seu sonho ser arrastado pela correnteza, ano após ano, enquanto a angústia crescia como uma enchente dentro do peito.
Numa noite cinzenta, com o chão ainda úmido e o coração pesado, ele se sentou à mesa da cozinha e desabafou com a única pessoa que sempre esteve ao seu lado.
— Já chega... — disse ele, com a voz embargada. — Não tenho dinheiro para comprar outro sítio... e também não consigo vender este. Não sei mais o que fazer...
Sua esposa o ouviu em silêncio. Depois de um momento, sem alterar o tom de voz, disse apenas:
— Então... troque as galinhas por patos.
A simplicidade daquela frase, dita com serenidade, caiu sobre ele como um raio de sol depois da tempestade. Por um instante, tudo parou. A ideia parecia absurda... mas ao mesmo tempo, fazia sentido. Os patos adoravam a água. Não fugiam dela. Nadavam sobre ela.
Naquela noite, o criador não dormiu. Ficou pensando. Imaginando. E pela primeira vez, em muito tempo, viu uma saída. Não era preciso abandonar tudo. Bastava mudar o foco. Adaptar-se.
Nos meses seguintes, ele reformulou seu sítio. Onde antes havia galinheiros frágeis e cheios de penas secas, agora havia viveiros com pequenos lagos artificiais. Os patos, alegres e barulhentos, nadavam sem medo quando as águas subiam. E o que antes era tragédia virou vantagem.
O homem prosperou. E mais do que isso: aprendeu uma das maiores lições da vida.
A verdadeira força está em se adaptar.
Moral da história: Quando a vida nos coloca diante de obstáculos repetitivos e dolorosos, muitas vezes ficamos presos a velhos hábitos, apegados a soluções que já não funcionam. O criador de galinhas estava mergulhado no problema, sem conseguir enxergar além do óbvio — até que uma perspectiva externa e simples lhe revelou uma saída.
A sugestão de trocar as galinhas por patos é uma metáfora poderosa sobre adaptabilidade e criatividade. Às vezes, não precisamos mudar o mundo — basta mudar a forma como interagimos com ele. O que parece um fim pode ser o começo de algo melhor, desde que tenhamos coragem para mudar e abertura para ouvir ideias diferentes.
Em vez de lutar contra a correnteza, por que não aprender a nadar com ela?
Transforme o problema em oportunidade. Reinvente-se. Como diz o velho ditado: se a vida te der limões, faça uma limonada.

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