O Sábio e a Serpente

Ilustração de um velho sábio em uma vila antiga

Nos arredores de uma pequena aldeia na Índia, havia uma serpente negra temida por todos. Sua picada não matava, mas deixava o homem doente por semanas — e muitos aldeões já tinham sentido sua dor. Rápida, silenciosa e maligna, a serpente tornou-se um pesadelo constante para o povo da vila.

Certa primavera, um homem sábio passou pela aldeia em sua peregrinação anual. Como de costume, adultos e crianças correram para receber suas bênçãos. No entanto, um camponês permaneceu à parte, aguardando até que o sábio impusesse sua mão na última cabeça. Então, se aproximou e disse:

— Venerável sábio, não venho pedir uma bênção só para mim, mas para toda a aldeia. Se o senhor puder nos livrar da serpente que nos atormenta, seremos verdadeiramente abençoados — não apenas em palavras, mas em ação.

O sábio acenou com a cabeça e pediu que o conduzissem até o buraco onde a serpente vivia. Ao se aproximar, viu a criatura enrolada em espiral, sob o calor do sol. Sua pele negra reluzia com faixas verdes e amarelas — um contraste de beleza e ameaça.

— Serpente — murmurou o sábio —, vim conversar com você.

A serpente ergueu a cabeça e fitou-o com olhos frios e atentos.

— Serpente — sussurrou com ternura —, desvie-se desse mau caminho. A vida é breve, e quem sabe quantas outras vidas você terá que viver para reparar esta?

Enquanto falava, começou a acariciar suas costas suavemente. A serpente, relutante a princípio, aos poucos abaixou a cabeça, fechou os olhos. O sábio prosseguiu:

— Viva em paz. Trilhe um caminho de harmonia com os outros seres. Deixe de causar dor.

A serpente silvou, longa e desconfiada. Mas o homem persistiu, com voz suave e mãos gentis. Aos poucos, ela desenrolou-se, balançando o corpo num ritmo calmo, como se dançasse com as palavras do sábio.

Anoiteceu, e ele ainda estava ali, conversando e acariciando a serpente. Por fim, disse:

— Serpente, preciso partir. Mas façamos um pacto: por um ano, você não atacará os aldeões. Quando o tempo passar, voltarei para conversarmos novamente.

A serpente assentiu com um leve movimento, e assim foi feito.

Um ano se passou. O homem sábio retornou e parou diante do buraco.

— Serpente, serpente, estou aqui!

Esperou. Até que a serpente surgiu, arrastando-se com dificuldade. O que ele viu partiu-lhe o coração: magra, machucada, pele sem brilho, marcada por feridas abertas e cicatrizes antigas.

— Serpente, minha querida... o que aconteceu com você?

Com voz baixa e sem amargura, a serpente respondeu:

— Quando os aldeões souberam que eu havia mudado, passaram a me atormentar. Primeiro de longe, atirando pedras. Depois, quando viram que eu não revidava, se aproximaram. Chutes, pisões, beliscões... Cumpri minha promessa. Mas agora não posso nem tomar sol sem ser maltratada. O senhor me fez prometer paz... e colhi sofrimento.

O sábio, com os olhos marejados, acariciou sua pele ferida e murmurou:

— Ah, pobre serpente... A culpa é minha. Eu pedi que não atacasse, mas jamais quis que deixasse de se proteger. Nunca disse para você deixar de silvar, de mostrar seus dentes. Paz não é passividade. Defender-se é diferente de agredir.

Nesta história, a moral não está escrita — está vivida.
E agora, deixo para você: Será que ser pacífico significa ser passivo? Até que ponto devemos permitir que nos machuquem em nome da paz?

Deixe nos comentários a sua resposta. Hoje, você é quem escreve a moral da história.

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