A Última Homenagem
Era uma tarde quente quando um médico chegou apressado ao hospital. Tinha sido chamado com urgência para uma cirurgia delicada. Sem perder tempo, trocou de roupa e dirigiu-se diretamente ao centro cirúrgico.
No corredor, foi abordado por um homem angustiado. Era o pai do menino que aguardava pela cirurgia. Seus olhos estavam vermelhos, as mãos trêmulas. Ele andava de um lado para o outro, tentando conter o pânico que o dominava.
Ao ver o médico, não se conteve:
— Por que demorou tanto? — gritou com a voz embargada. — Você não tem ideia do que estou passando! A vida do meu filho está por um fio e o senhor simplesmente aparece assim, com calma? Que tipo de médico é você? Não tem coração?
O médico parou por um instante, respirou fundo e respondeu com serenidade:
— Me perdoe, senhor. Vim assim que recebi a chamada. Agora, por favor, deixe-me fazer o meu trabalho. Quanto mais tempo perdermos aqui, mais arriscada se torna a situação do seu filho.
O homem, tomado pela dor, respondeu com dureza:
— Se fosse o seu filho ali dentro, você também estaria calmo assim? Se ele morresse, você conseguiria falar desse jeito?
O médico manteve a calma.
— Entendo a sua dor. Mas, neste momento, a raiva não vai ajudar. Eu lhe prometo que farei tudo o que estiver ao meu alcance para salvar seu filho.
O pai virou o rosto, murmurando algo incompreensível, ainda inconformado.
Horas se passaram. Finalmente, o médico saiu da sala de cirurgia com expressão séria, mas tranquila. Aproximou-se do pai:
— A cirurgia foi bem-sucedida. Seu filho está fora de perigo. Se tiver dúvidas, a enfermeira poderá lhe explicar melhor. Com licença.
E, sem esperar resposta, virou-se e saiu apressadamente pelo corredor.
O pai, confuso e ainda abalado, murmurou com amargura:
— Que arrogância! Nem ficou para conversar. Será que cinco minutos a mais custariam tanto assim?
A enfermeira, que ouvira o comentário, aproximou-se devagar. Os olhos dela estavam marejados.
— Senhor... — disse com a voz embargada — o doutor estava no funeral do próprio filho quando foi chamado. Mesmo em luto, ele deixou tudo para vir aqui e salvar o seu.
Por um momento, o pai ficou em silêncio. Sentiu um peso no peito, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. A vergonha, o arrependimento e a dor misturaram-se em seu rosto. Ele havia julgado sem saber. Atacado um homem que, mesmo despedaçado por dentro, escolheu salvar outra vida.
Reflexão: Quantas vezes julgamos os outros sem saber o que se passa em seus corações? Esta história nos lembra que cada pessoa pode estar enfrentando uma batalha invisível. Que, mesmo quando nos sentimos justificados pela dor, devemos escolher a empatia antes do julgamento.

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