O Corvo Que Queria Ser Outra Ave
Em um denso bosque, onde o céu azul se misturava ao verde vibrante das árvores, vivia um corvo. Tinha um ninho confortável no alto de uma árvore e alimento em abundância. No entanto, apesar de tudo, algo em seu coração sempre ansiava por mais.
Do alto de seu refúgio, ele observava os graciosos cisnes que nadavam no lago próximo. Ficava encantado com sua elegância, a leveza com que se moviam e a beleza de suas penas brancas. Em silêncio, desejava ser como eles.
— "Ah, se meu corpo fosse coberto de penas brancas... Quem sabe, assim, eu pudesse ser feliz de verdade?" — murmurava.
Sentindo-se cada vez mais insatisfeito com sua própria natureza, decidiu que faria de tudo para se tornar um cisne. Assim, abandonou seu ninho nas árvores e foi viver à beira do lago. Passou a copiar o comportamento dos cisnes: flutuava na água, tentava imitar o jeito como voavam e se alimentava apenas do que eles comiam. Todos os dias, esfregava suas penas com força, na esperança de clareá-las.
Mas, apesar de todo seu esforço, o corvo continuava preto. A comida dos cisnes não lhe fazia bem e sua saúde começou a piorar. A água constante enfraquecia suas penas e ele começou a se sentir fraco e perdido.
Cansado e frustrado, voou para longe do lago. Foi então que ouviu falar de um velho e sábio monge que vivia na floresta — diziam que ele podia realizar qualquer desejo. O corvo foi até ele e pediu:
— “Mestre, por favor, transforme-me em outra ave. Não quero mais ser um corvo.”
O monge, com paciência, respondeu:
— “Em qual ave você gostaria de se transformar?”
— “Gostaria de ser um papagaio, por causa das penas verdes e porque eles podem falar.”
O monge assentiu:
— “Muito bem. Mas antes de eu conceder seu desejo, quero que converse com um papagaio.”
E assim o corvo partiu em busca de um papagaio. Quando finalmente encontrou um, ficou maravilhado com o brilho esmeralda de suas penas. Elogiou sua aparência e comentou:
— “Você deve ser muito feliz com essa beleza toda, não é?”
Mas o papagaio respondeu, desanimado:
— “Na verdade, não sou feliz. Minhas penas verdes se confundem com as folhas das árvores. Ninguém me nota. Vivo desejando ter uma cor que me fizesse brilhar.”
Surpreso, o corvo voltou ao monge e disse:
— “Então quero ser um pavão. Suas penas são tão vistosas e todos os admiram!”
O monge mais uma vez respondeu:
— “Antes disso, vá e fale com um pavão.”
Ao encontrar o pavão, o corvo ficou hipnotizado por suas cores vibrantes e cauda majestosa. Encantado, disse:
— “Você deve ser muito feliz! Todos querem ver você, te fotografam, te admiram…”
O pavão, com um olhar triste, respondeu:
— “Na verdade, vivo com medo. Os caçadores me perseguem por causa das minhas penas. Elas são arrancadas e vendidas. Vivo em jaulas, sendo exibido. Você acha mesmo que isso é vida?”
— “Se você pudesse escolher ser outra ave, qual seria?” — perguntou o corvo, intrigado.
O pavão pensou por um momento e respondeu:
— “Gostaria de ser um corvo.”
O corvo arregalou os olhos:
— “Um corvo? Mas ninguém gosta da cor preta, ninguém quer um corvo de estimação! Eu passo os dias revirando lixo… Sou considerado feio e ignorado.”
O pavão então respondeu com sabedoria:
— “Mas já viu alguém caçar corvos para arrancar suas penas? Já ouviu falar em sanduíche de corvo? Não. Você voa livre, ninguém o persegue, e pode viver com segurança. Quem, então, tem a vida mais feliz?”
Naquele momento, o corvo finalmente entendeu. A felicidade não estava em mudar sua aparência ou tentar ser como os outros. Estava em aceitar quem ele era e valorizar sua própria liberdade e natureza.
Moral da história: Não importa quem você é, onde você está, ou como você se parece — você é incrível exatamente como é. Nunca se compare com os outros, pois cada ser tem seus próprios desafios e dons. Você é único, e isso é o que te torna especial.
Aceitar sua essência, suas qualidades e seus limites é o primeiro passo para uma vida plena. A verdadeira beleza está em ser fiel a si mesmo.

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