O Leão e os Gatos

Um leão sentado em uma savana observando um grupo de gatos

Numa vasta savana, onde o sol beijava a terra ressequida e o vento sussurrava histórias antigas, um leão majestoso caminhava solitário. Seu rugido era a voz do deserto; sua juba, um trono dourado onde os raios do sol repousavam. Rei entre os animais, conhecido por sua força implacável, ele vivia um tempo de silêncio e contemplação.

Certo dia, enquanto percorria seu reino escaldante, o leão avistou um grupo de gatos reunidos sob a sombra generosa de uma acácia. Conversavam animadamente, alheios à presença ameaçadora que se aproximava.

— Vou devorá-los — pensou o leão, sentindo o apetite pulsar em suas entranhas.

Mas algo inesperado aconteceu. Uma paz súbita, quase sagrada, invadiu seu coração. O ímpeto predador esmoreceu diante de uma curiosidade incomum. Em silêncio, o leão se aproximou para escutar aquelas criaturas frágeis e tão diferentes dele.

— Meu bom Deus — disse um dos gatos, sem notar o observador escondido entre as folhagens. — Passamos a tarde inteira orando! Pedimos que chovesse ratos do céu!

— E, até agora, nada! — respondeu outro, com os olhos voltados para o alto, frustrado. — Será que o Senhor nos esqueceu?

O céu permaneceu calado, como se contemplasse em silêncio a dúvida daqueles pequenos corações. E, naquele instante, a fé dos gatos vacilou, ofuscada pela ausência do que desejavam.

O leão, imóvel e pensativo, afastou-se lentamente. Seus passos pesavam com o peso de um novo entendimento.

“Veja como são as coisas... Eu estava prestes a matá-los, mas algo maior me impediu. Estavam tão focados no que não receberam que nem notaram a proteção que lhes foi concedida.”

E assim, o leão aprendeu uma verdade profunda:
"Lamentar aquilo que nos falta é desperdiçar aquilo que já temos."

Ele seguiu seu caminho levando essa lição como um tesouro oculto sob as areias do tempo.

Moral da História: Esta parábola nos convida a refletir sobre gratidão e percepção. Muitas vezes, estamos tão centrados naquilo que desejamos e ainda não alcançamos, que nos esquecemos de olhar ao redor e reconhecer tudo aquilo que já nos foi concedido — inclusive as bênçãos invisíveis. Nem sempre os milagres vêm na forma que esperamos. Às vezes, o maior presente é justamente aquilo que nos foi evitado. Em nossa impaciência, deixamos de perceber as sutis formas pelas quais somos protegidos. Ser grato é reconhecer o invisível cuidado que nos acompanha mesmo quando o céu parece em silêncio.

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