"Os Três Conselhos" – Uma Parábola Sobre Fé, Paciência e Sabedoria

Ilustração de um jovem casal, um homem e uma mulher

Num pequeno sítio perdido no interior, vivia um jovem casal recém-casado. Eles não tinham riquezas, nem terras, nem heranças. Viviam de favores e do pouco que conseguiam plantar ou trocar com os vizinhos. Mas o que lhes faltava em bens materiais, sobrava em amor, esperança e sonhos compartilhados.

Certa noite, ao redor do fogo brando do fogão a lenha, o marido olhou nos olhos da esposa e disse com voz firme, porém embargada:

— Meu amor, eu vou partir. Preciso ir para longe, procurar trabalho e juntar dinheiro para, um dia, te dar uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou demorar... Talvez meses, talvez anos... Mas eu prometo: serei fiel a você. E só te peço uma coisa em troca... que também me espere com fidelidade.

A esposa, com lágrimas nos olhos e o coração apertado, apenas assentiu. Sabia que aquele sacrifício era por amor.

O jovem saiu a pé, sem rumo certo, apenas com a fé nos pés e a esperança no peito. Caminhou por dias, cruzando vilarejos e campos vastos, até que encontrou uma grande fazenda. O proprietário, um homem sério mas justo, precisava de um trabalhador. O jovem não hesitou e fez uma proposta incomum:

— Quero trabalhar pelo tempo que for necessário, mas com uma condição: não me pague nenhum salário mensal. Guarde tudo para mim, numa poupança. E no dia em que eu decidir partir, o senhor me entrega o que for meu.

O fazendeiro pensou, achou a proposta honesta e aceitou. Assim começou uma longa jornada.

Passaram-se vinte anos.

Vinte anos de trabalho duro, de sol e chuva, sem férias, sem descanso, sem notícias de casa. Mas também sem reclamações. Quando o vigésimo ano chegou, o homem — já com os cabelos grisalhos e o rosto marcado pelo tempo — procurou o patrão:

— Patrão, quero voltar para casa. Vim buscar o que é meu.

O fazendeiro o recebeu com respeito e disse:

— Você foi leal e honesto. Cumpriu sua parte. Mas antes de lhe dar o dinheiro, quero lhe propor algo...

O homem franziu a testa, curioso.

— Você pode levar todo o seu dinheiro agora e partir... Ou pode abrir mão do dinheiro e receber, no lugar dele, três conselhos. Pense com calma. Volte amanhã com sua decisão.

O homem passou a noite refletindo. Seriam conselhos melhores que vinte anos de trabalho? Seriam palavras mais valiosas que moedas? Ainda assim, algo dentro dele lhe dizia para escutar.

Na manhã seguinte, voltou ao patrão:

— Quero os conselhos.

O fazendeiro sorriu e respondeu:

— Está certo. Mas lembre-se: não há volta.

E então lhe deu os três conselhos:

1. Nunca tome atalhos em sua vida. Por mais tentadores que pareçam, os caminhos mais curtos e desconhecidos podem ser os mais perigosos.

2. Nunca seja curioso com aquilo que é mau. A curiosidade pelo mal pode ser fatal.

3. Nunca tome decisões em momentos de raiva ou dor. As emoções intensas são péssimas conselheiras e as consequências podem ser irreversíveis.

Após ouvir atentamente, o homem assentiu. O fazendeiro então lhe entregou três pães:

— Dois para a viagem. O terceiro, só abra quando estiver com sua esposa.

Com os conselhos guardados no coração e os pães na mochila, ele partiu para a longa jornada de volta.

O caminho era árduo. No final do primeiro dia, encontrou um andarilho.

— Vai para onde, companheiro? — perguntou o estranho.

— Para minha casa, que está a mais de vinte dias daqui — respondeu.

— Você é louco? Tem um atalho que corta tudo isso. Em cinco dias você chega.

O homem sentiu-se tentado. Mas então o primeiro conselho ecoou em sua mente. Respirou fundo, agradeceu e seguiu pela estrada longa. Dias depois, ouviu que aquele atalho levava a um desfiladeiro onde viajantes eram roubados e mortos.

Seguiu viagem e, cansado, hospedou-se numa pensão modesta à beira da estrada. Pagou a diária com o pouco que tinha e se deitou. No meio da madrugada, um grito aterrador ecoou pela casa. Ele se levantou assustado, correu até a porta... mas antes de abri-la, lembrou-se do segundo conselho. Voltou para a cama e tentou dormir.

Ao amanhecer, o dono da hospedagem, curioso, perguntou:

— O senhor ouviu o grito?

— Ouvi.

— E não foi ver o que era?

— Não.

— Então o senhor é o primeiro hóspede a sair vivo deste lugar. Meu filho tem crises violentas à noite... já matou muitos curiosos que foram ver o que acontecia.

O homem tremeu por dentro. Mas seguiu em frente, com o coração agradecido pela sabedoria que o salvou mais uma vez.

Depois de vinte dias de caminhada, com a alma em festa e os olhos marejados, ele avistou ao longe a fumaça da chaminé da casa onde um dia foi feliz. O sol se punha e a luz dourada da tarde emoldurava a cena: sua esposa, sentada no jardim, acariciava os cabelos de um jovem rapaz que repousava a cabeça em seu colo.

Seu mundo desabou.

O coração se encheu de fúria. A raiva lhe queimava o peito. O sangue parecia ferver nas veias. Traição! Depois de vinte anos de espera, era aquilo que o aguardava?

Ele apertou o passo, decidido a confrontar os dois... mas então o terceiro conselho brilhou em sua memória. Parou. Sentou-se numa pedra à beira do caminho. Chorou. E decidiu passar a noite ali, longe dos olhos deles.

Ao amanhecer, mais calmo, decidiu não agir com violência. Caminhou até a porta, bateu... e quando a mulher abriu e o reconheceu, lançou-se em seus braços com um choro descontrolado.

Ele, com dor na alma, tentou se afastar.

— Eu fui fiel a você. E você me traiu...

Ela, assustada, olhou em seus olhos e perguntou:

— Do que você está falando?

— Vi você ontem com um homem... acariciando seus cabelos.

Ela sorriu entre as lágrimas e respondeu:

— Aquele homem é o nosso filho. Quando você partiu, descobri que estava grávida. Hoje ele tem vinte anos... e sempre esperou para conhecer o pai.

O homem caiu de joelhos. Chorou como uma criança. Abraçou a esposa. Abraçou o filho. E então todos entraram. Ela preparou o café com o coração em festa. Na mesa, ele se lembrou do terceiro pão. Partiu-o ao meio, e dentro dele... encontrou todo o seu dinheiro, cuidadosamente guardado, como o patrão havia prometido.

Moral da História: A vida é cheia de escolhas, e muitas vezes somos testados. Atalhos fáceis podem nos levar a armadilhas. Curiosidade sem propósito pode nos custar caro. E decisões tomadas na fúria podem destruir tudo o que amamos.

Sabedoria vale mais que ouro. Fidelidade vale mais que pressa. E paciência, quando guiada por fé, nos conduz de volta ao que mais importa.

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