O Cavalo, o Burro e o Peso da Indiferença
Em um caminho de terra batida que serpenteava entre campos e montanhas, um cavalo e um burro viajavam lado a lado, conduzidos por seus tropeiros em direção à cidade. O sol ainda mal havia subido quando os dois animais começaram a jornada.
O cavalo trotava com leveza. Em seu lombo, descansavam apenas quatro arrobas — carga que mal lhe fazia cócegas. Já o burro, suando e arfando, carregava o dobro: oito arrobas que pareciam lhe esmagar a alma a cada passo.
Após algum tempo de caminhada, o burro, com a voz entrecortada de cansaço, disse:
— Irmão cavalo, por misericórdia... minha carga é pesada demais. Não sei se aguento muito mais. Que tal repartirmos igualmente? Se cada um levar seis arrobas, poderemos seguir juntos até o fim sem que ninguém despenque pelo caminho.
O cavalo virou a cabeça e soltou uma gargalhada debochada, relinchando com desprezo.
— Ora, ora... veja só o que me pede! Por que eu haveria de carregar mais, se estou tão bem com as minhas quatro? Que ideia tola! O problema é seu, burro! Resolva-se!
O burro baixou os olhos, exausto, mas ainda tentou argumentar:
— Egoísmo não leva ninguém longe, amigo. Se eu cair, quem você acha que vai carregar minha carga?
Mas o cavalo apenas bufou com desdém e seguiu trotando, com o peito estufado de orgulho.
Alguns quilômetros adiante, como o burro temia, suas pernas fraquejaram. Exausto, tropeçou e caiu pesadamente no chão, sendo esmagado pela própria carga. Um silêncio doloroso tomou conta do caminho. O burro estava morto.
Os tropeiros, aflitos com a perda, não tinham tempo a perder. Sem muita cerimônia, retiraram as oito arrobas do burro e empilharam-nas sobre o lombo do cavalo, já com suas quatro. Agora ele levava doze.
O cavalo tentou resistir, empinou-se, relinchou em agonia — mas nada adiantou. Recebeu chicotadas ásperas no lombo até se render, gemendo sob o peso que poderia ter evitado.
Lá do alto de um galho seco, um velho papagaio que acompanhava tudo desde o início gritou:
— Bem feito! Foi mais burro que o burro! Se tivesse dividido o fardo por compaixão, agora levaria menos peso e nenhuma dor!
Moral da história: A verdadeira sabedoria está na solidariedade. O cavalo, movido por egoísmo, recusou-se a ajudar um companheiro em sofrimento. Mas a indiferença tem um preço. Ao ignorar o apelo por ajuda, acabou arcando com um fardo ainda maior e com a dor de um arrependimento tardio.
Na vida, muitos preferem seguir leves enquanto outros se afogam sob o peso das dificuldades. Mas esquecer que somos todos viajantes do mesmo caminho é um erro grave. Ajudar o próximo não nos enfraquece — nos humaniza. Repartir o peso de alguém hoje pode evitar que carreguemos o peso da culpa amanhã.
Seja sensível à dor do outro. A empatia, quando praticada, nos alivia do egoísmo e fortalece os laços que nos sustentam nos momentos mais pesados da vida.
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