O Menino que explicou DEUS
Durante o ritual, o rei, conhecido por sua mente inquisitiva, fez três perguntas profundas ao padre:
— Diga-me, ó sábio homem:
Como Deus pode ser visto?
Até onde Deus pode enxergar?
E o que Deus faz?
Surpreso com a complexidade das questões, o pobre padre pediu um prazo para refletir. O rei, em tom magnânimo mas com severidade implícita, concedeu-lhe um mês para encontrar respostas que o satisfizessem. Caso falhasse, sofreria as consequências… e a decapitação era uma possibilidade real.
O sacerdote voltou para casa abatido, mergulhado em angústia. Meditou dias e noites, buscou nos livros sagrados, orou fervorosamente… mas nenhuma resposta parecia digna de satisfazer o rei.
Observando a aflição do pai, seu filho — um menino de apenas seis anos, mas de sabedoria incomum — aproximou-se e perguntou:
— Papai, por que está tão triste?
— Oh, meu filho… fui desafiado com três perguntas pelo rei, e se não conseguir respondê-las, temo pelo que acontecerá comigo.
O menino, tranquilo, disse:
— Não se preocupe, pai. No dia marcado, irei com você ao palácio. Responderei ao rei.
— Você? — o pai exclamou, surpreso. — Mas são perguntas que desafiam até os grandes sábios!
— Confie em mim — disse o menino, com um leve sorriso — responderemos diante do trono.
O Dia do Encontro
Chegado o dia, o sacerdote e seu filho foram conduzidos ao palácio. Diante da corte repleta de nobres e estudiosos, o rei repetiu solenemente suas perguntas:
— Como Deus pode ser visto? Até onde Ele pode enxergar? E o que Ele faz?
O menino deu um passo à frente e, com calma e educação, disse:
— Majestade, perdoe-me, mas antes de responder às suas perguntas, preciso dizer que, como hóspede de Vossa Alteza, não fui recebido com a devida hospitalidade.
O rei, ligeiramente constrangido, fez um gesto, ordenando que servissem algo ao garoto. Como era uma criança, ofereceram-lhe leite.
O menino então mergulhou o dedo no copo e começou a observá-lo atentamente.
— O que está fazendo, pequeno? — perguntou o rei, curioso.
— Majestade, ouvi dizer que há manteiga no leite. Estou tentando encontrá-la.
— Ora! — riu o rei — a manteiga não se encontra assim. É preciso bater, processar… só então ela se separa e aparece.
O menino sorriu e respondeu:
— Exatamente, Majestade. Assim é com Deus. Ele está presente em tudo, inclusive em nós. Mas para percebê-Lo, é necessário um processo: disciplina, meditação e devoção. A visão de Deus exige esforço interior, assim como a manteiga precisa do trabalho para se revelar no leite.
O rei ficou visivelmente impressionado.
— Brilhante resposta — disse. — Agora diga: até onde Deus pode enxergar?
O menino pediu que trouxessem uma vela. Acendeu-a diante do rei e perguntou:
— Vossa Majestade, até onde a luz desta vela pode alcançar?
— A luz se espalha por todo o cômodo — respondeu o rei.
— Assim também é o olhar de Deus — disse o menino. — Ele não conhece limites. Ele vê tudo: o que é feito no claro e no escuro, o que é dito e o que é apenas pensado. Nenhuma sombra é escura o suficiente para ocultar algo de Seus olhos.
O rei, agora com os olhos marejados, fez a última pergunta:
— E, por fim… o que Deus faz?
O menino olhou diretamente para ele e perguntou:
— Deseja saber isso como rei ou como aluno?
O rei, surpreso com a ousadia respeitosa da pergunta, respondeu com humildade:
— Como aluno.
— Então, permita-me assumir o lugar do mestre.
O rei compreendeu. Levantou-se de seu trono e convidou o menino a se sentar. Ele próprio ficou de pé diante da criança, agora sentada no trono real.
— Agora sim — disse o menino — está preparado para ouvir a resposta. Pois veja: o que Deus faz é exatamente isso — Ele muda papéis. Ele rebaixa os poderosos e exalta os humildes. Transforma reis em súditos e súditos em reis, conforme Sua vontade.
Um silêncio reverente tomou conta do salão. A sabedoria da criança havia tocado até os corações mais endurecidos.
O rei, profundamente emocionado, ajoelhou-se diante do menino e disse:
— Hoje eu aprendi mais do que em toda minha vida. Por tua sabedoria, não apenas salvaste teu pai, mas iluminaste este reino. A partir deste dia, serás meu conselheiro real.
E assim, aquele menino, com fé pura e coração sábio, passou a servir ao rei — não como um simples garoto, mas como um guia espiritual para todos.
Moral da História: Esta história nos recorda de três grandes verdades espirituais:
Deus está presente em tudo, mas só pode ser percebido por aqueles que se dedicam à busca interior com sinceridade, disciplina e fé.
O olhar de Deus alcança todos os cantos, mesmo os que julgamos ocultos. Nada escapa à Sua atenção.
Deus tem o poder de transformar destinos. Ele eleva os humildes e ensina lições poderosas aos poderosos. Em um instante, pode reverter qualquer situação.
Nunca subestime os humildes ou os pequenos — às vezes, é na pureza de uma criança que habita a mais profunda sabedoria. E acima de tudo, lembre-se: a verdadeira grandeza está em reconhecer que, diante de Deus, somos todos aprendizes.
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