O Monge e o Escorpião

 

Uma ilustração digital de um monge budista idoso, com uma longa barba branca e um hábito alaranjado, sentado em frente a um templo asiático.

Um monge e seus discípulos caminhavam por uma estrada de terra, quando chegaram a uma antiga ponte de madeira que cruzava um rio caudaloso. Ao olharem para baixo, viram um escorpião sendo arrastado pelas fortes correntezas, lutando desesperadamente para sobreviver.

Sem hesitar, o monge desceu pela margem, entrou na água gelada e tentou resgatar o pequeno animal com as próprias mãos. Assim que o segurou, o escorpião, num reflexo instintivo, picou-o com força. A dor foi intensa, e o monge, por impulso, deixou o escorpião cair de volta à correnteza.

Mesmo ferido, o monge não desistiu. Procurou ao redor, pegou cuidadosamente um galho e, com paciência e delicadeza, entrou novamente no rio. Com a ajuda do galho, conseguiu retirar o escorpião da água e o depositou em segurança, fora do alcance da corrente.

Depois disso, retornou à estrada, onde seus discípulos o aguardavam atônitos. O silêncio entre eles durou pouco.

— Mestre — disse um dos discípulos, indignado —, o senhor está ferido! Por que arriscar-se por um bicho desses? Ele é perigoso, ingrato, venenoso! O picou mesmo quando o senhor tentava salvá-lo! Por que ajudá-lo? Ele não merecia!

O monge olhou para os discípulos com serenidade nos olhos e respondeu com voz calma:

— O escorpião agiu conforme a sua natureza: ele pica. Eu agi conforme a minha: eu cuido. Não posso deixar que a natureza dele mude a minha.

Os discípulos se entreolharam em silêncio. Aquela simples frase carregava uma sabedoria profunda.

Moral da História: Essa parábola nos ensina que nem sempre seremos recompensados pelo bem que fazemos — às vezes, seremos até feridos por isso. Mas a verdadeira nobreza está em permanecer fiéis à nossa essência.

Cada ser age conforme sua natureza. Alguns ferem, mesmo quando ajudados. Outros escolhem agir com compaixão, mesmo quando machucados. O monge sabia disso: não deixaria que o veneno do escorpião contaminasse seu coração.

Na vida, podemos cruzar com pessoas ingratas, hostis ou indiferentes. Ainda assim, temos o poder de decidir como reagir. Quando escolhemos o caminho da compaixão, não é porque o outro merece, mas porque essa é a nossa essência. E é nela que reside a verdadeira transformação.

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