O Professor que Ensinava com os Olhos Fechados
— O senhor lembra de mim?
O idoso, com olhos serenos, respondeu com gentileza:
— Não, me desculpe. Não me lembro.
— Fui seu aluno — disse o jovem, com entusiasmo. — E hoje sou professor, como o senhor.
O velho abriu um sorriso surpreso:
— Que bom! E o que o levou a seguir essa carreira?
O jovem, emocionado, respondeu:
— O senhor. O senhor me inspirou.
Curioso, o velho professor inclinou-se levemente para frente e perguntou:
— E o que foi que eu fiz para inspirar você?
Então o jovem começou a contar:
— Um dia, quando eu era seu aluno, um colega apareceu com um relógio novo e muito bonito. Eu o desejei. E, movido pela tentação, o roubei do bolso dele. Pouco tempo depois, ele percebeu o sumiço e contou ao senhor. O senhor interrompeu a aula e disse: “O relógio de um aluno foi roubado. Quem pegou, por favor, devolva.”
Eu não tive coragem de confessar.
Então o senhor trancou a porta da sala e nos disse que verificaria os bolsos de todos até encontrar o relógio. Mas nos pediu algo surpreendente: que fechássemos os olhos.
E assim fizemos.
O senhor foi de aluno em aluno, vasculhando os bolsos. Quando chegou a mim, encontrou o relógio, mas continuou checando os demais como se nada tivesse acontecido. No final, o senhor disse apenas:
— Podem abrir os olhos. O relógio já foi encontrado.
E mais nada.
O senhor nunca disse quem havia pego. Nunca me expôs, nunca me humilhou, nunca citou meu nome. Aquele foi o dia mais vergonhoso da minha vida... mas também o mais transformador.
O senhor salvou minha dignidade. Me deu a chance de refletir, de mudar, de me tornar alguém melhor — sem me esmagar com vergonha ou raiva.
Aquela atitude silenciosa gritou dentro de mim. E foi nesse momento que decidi que queria ser como o senhor. Ensinar. Mas, mais do que isso, ensinar com respeito, compaixão e sabedoria.
O senhor se lembra desse episódio?
O professor, com um olhar emocionado, respondeu calmamente:
— Lembro-me do relógio, da busca, da sala em silêncio... mas não lembro de você.
— Como assim?
— Porque, meu filho... eu também fechei os olhos.
Moral da história: “Se, para corrigir alguém, você precisa humilhar... então você não aprendeu a ensinar.”
Um verdadeiro educador não busca apenas transmitir conhecimento, mas moldar caráter. E para isso, é preciso mais do que palavras: é preciso empatia, sabedoria e respeito.
Corrigir um erro pode ser necessário, mas jamais às custas da dignidade de alguém. Humilhação pode calar momentaneamente, mas respeito transforma para sempre.
Essa história nos lembra que o gesto mais simples, feito com compaixão, pode mudar o rumo de uma vida.

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