"O Camponês e o Rei" — Uma lição sobre fazer o bem sem olhar a quem

Ilustração de dois camponeses conversando em frente a uma casa de madeira numa vila antiga

Certa vez, em uma pequena aldeia escondida entre vales e montanhas, chegou um caçador cansado e perdido. Ao avistar um camponês que lavrava a terra, aproximou-se e perguntou:

— O senhor sabe o caminho para a cidade de Gondar?

O camponês assentiu com um sorriso:

— Sei sim, forasteiro. Mas o sol já está se pondo, e Gondar fica a um dia inteiro de viagem. Venha, passe a noite em minha casa. Amanhã, bem cedo, poderá seguir com segurança.

Surpreso com tamanha gentileza, o caçador aceitou o convite. O camponês, embora humilde, matou uma de suas três galinhas para preparar um jantar digno. Depois, ofereceu sua própria cama ao caçador e foi dormir no chão, com a tranquilidade de quem faz o bem sem esperar nada em troca.

Na manhã seguinte, ao raiar do dia, o caçador agradeceu e fez um novo pedido:

— Você poderia me acompanhar até Gondar? Tenho medo de me perder outra vez.

O camponês pensou por um momento e respondeu:

— Acompanharei com prazer. Mas em troca, gostaria de ver o rei. Sempre ouvi falar dele, mas nunca o vi.

— Prometo que, ao chegarmos a Gondar, você verá o rei — garantiu o caçador.

E assim partiram, com o camponês montado na garupa do cavalo. Juntos, cruzaram montanhas, florestas densas e longos caminhos poeirentos. A viagem durou um dia e uma noite inteira.

Ao chegarem aos portões de Gondar, o camponês, curioso, perguntou:

— Como saberei quem é o rei?

O caçador sorriu e disse:

— É fácil. Quando todos fizerem uma coisa, o rei será aquele que faz diferente.

Enquanto atravessavam a cidade, o camponês observava: todos que viam o caçador se ajoelhavam, menos ele mesmo. No palácio, todos tiravam o chapéu, menos o caçador. Confuso e intrigado, o camponês riu e disse:

— Espere aí... quem é o rei? Você ou eu?

O caçador, rindo também, respondeu:

— Eu sou o rei. Mas você também é, porque sabe, como poucos, como acolher um desconhecido com generosidade. E isso, meu amigo, é um verdadeiro ato de realeza.

A partir daquele dia, o camponês e o rei tornaram-se grandes amigos. E tudo começou com um simples gesto de bondade, sem segundas intenções, sem saber quem era quem.

Essa história nos lembra uma verdade poderosa: fazer o bem sem olhar a quem é uma das atitudes mais nobres que podemos cultivar. Quando agimos com generosidade, sem esperar recompensa, estamos plantando sementes de empatia, confiança e esperança em um mundo que tantas vezes se esquece disso.

A verdadeira bondade não exige reconhecimento. Ela brota naturalmente de corações dispostos a acolher, ajudar, servir. E, muitas vezes, os frutos dessa bondade retornam de formas inesperadas — seja em amizades duradouras, em oportunidades surpreendentes ou simplesmente na leveza de uma consciência tranquila.

Fazer o bem a todos, independentemente de quem sejam ou do que possam oferecer em troca, transforma não só o outro, mas a nós mesmos. Criamos pontes onde havia muros, cultivamos luz onde antes havia escuridão.

E mesmo que ninguém veja, mesmo que o mundo pareça indiferente, lembre-se:

"Não é preciso motivo para fazer o bem, só é preciso fazê-lo."

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