O Leão, o Lobo e o Homem Preguiçoso

Ilustração d euma homem sentado no chão da floresta entre um lobo e um leão

Numa aldeia distante, onde as manhãs eram frescas e os campos se estendiam como um tapete verdejante sob o céu azul, vivia um homem conhecido por sua preguiça. Sonhava com dias fáceis, em que o trabalho árduo não tivesse espaço em sua rotina. Seu desejo por conforto sem esforço o levou a tomar decisões questionáveis — e, numa manhã fatídica, sua preguiça o colocou frente a frente com o destino.

Vivendo de pequenos favores e esquivando-se de qualquer esforço, ele vagava pelos arredores em busca de algo para comer. Certa vez, ao avistar um pomar, decidiu roubar algumas maçãs. Mas antes que pudesse colher a primeira fruta, foi surpreendido por um fazendeiro que, indignado, correu em sua direção. Assustado, o homem fugiu às pressas para dentro da floresta.

Enquanto se embrenhava entre as árvores, notou algo curioso: um velho lobo, deitado à sombra, com apenas duas pernas. O homem parou, intrigado. “Como esse lobo sobrevive aqui, sozinho, sem poder caçar?”, pensou. O animal não podia correr, mal se movia, e vivia cercado por ameaças. E, mesmo assim, ali estava ele — calmo, vivo, quase sereno.

De repente, o silêncio da mata foi quebrado pelo som de passos pesados. Um majestoso leão surgiu, segurando um grande pedaço de carne na boca. O homem, temendo por sua vida, subiu rapidamente em uma árvore. Mas para sua surpresa, o leão não atacou o lobo. Ao contrário: deixou diante dele a carne e foi embora.

Os olhos do homem brilharam. Sentiu-se tocado por um “milagre divino”. Sorriu. Deus tinha cuidado daquele lobo inválido — então, certamente, também cuidaria dele. Com essa ideia fixa na mente, saiu à procura de um lugar confortável onde pudesse sentar e… esperar.

E assim fez. Esperou por horas, depois por um dia… e mais outro. Mas a comida não veio. Ninguém apareceu. A fome apertava o estômago e fazia doer os pensamentos. Finalmente, já sem forças, ele abandonou seu posto e se pôs a andar, fraco e frustrado.

Foi então que encontrou um velho sábio sentado à beira da estrada. Com voz cansada, o homem contou tudo o que havia vivido e, por fim, perguntou:

— Ó sábio, Deus mostrou misericórdia ao lobo aleijado. Mas por que não teve misericórdia de mim?

O velho sorriu com compaixão e respondeu:

— De fato, Deus tem um plano para todos nós. Mas, meu filho, você interpretou mal o sinal. Ele não queria que você fosse como o lobo… Ele queria que você fosse como o leão.

Surpreso, o homem arregalou os olhos.

O sábio continuou:

— Às vezes, os sinais divinos não são convites à passividade, mas chamados à ação. O leão foi o instrumento de misericórdia, não o receptor dela. Deus o fez forte para que ele ajudasse. Você não deveria esperar ser alimentado. Você deveria alimentar.

Aquelas palavras ecoaram no coração do homem. Pela primeira vez, ele entendeu: viver esperando que os outros lhe tragam sustento era negar o dom da própria força. Inspirado, ele retornou à aldeia. Começou oferecendo ajuda em pequenas tarefas. Aos poucos, foi ganhando confiança, responsabilidade, e, com o tempo, passou a ser conhecido não mais por sua preguiça, mas por sua dedicação.

Plantou, colheu, aprendeu. Descobriu habilidades que jamais imaginou ter. O respeito que passou a receber não vinha de belas palavras, mas de atitudes. Ele havia se transformado — de alguém que vivia à sombra da esperança, em alguém que gerava esperança para outros.

Certa vez, olhando o pôr do sol por entre os campos que ele mesmo cultivava, sorriu ao lembrar do lobo. Percebeu que a verdadeira misericórdia divina não havia sido o alimento que esperava receber, mas a oportunidade de mudar. Ele se tornara o leão de sua própria história: não mais um que esperava, mas alguém que provia.

Moral da história: A providência divina não é uma desculpa para a inércia. Cada ser tem seu papel na grande tapeçaria da vida. O lobo e o leão simbolizam dois caminhos: o da dependência e o da autossuficiência.

Alguns podem ser chamados a receber ajuda. Outros, como o leão, são chamados a oferecer. Errar na interpretação do que Deus quer para nós pode nos fazer desperdiçar a chance de crescer.

Não espere que a vida traga tudo até você. Os sinais existem, mas cabe a nós escolher se seremos os que esperam... ou os que agem. A transformação é possível quando abraçamos a responsabilidade e cultivamos nosso próprio campo.

Seja o leão. Seja a ajuda que o mundo precisa.

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